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Vamos falar de consumo consciente de álcool?

 

Confira no texto abaixo informações sobre cervejas sem álcool e de baixo abv.

 

 

A cerveja é uma bebida versátil, com uma porcentagem de álcool relativamente baixa, quando comparada com outras bebidas alcoólicas e que, quando consumida com moderação, pode fazer parte do estilo de vida saudável de um adulto.

É sabido que existem diversos benefícios relacionados ao consumo de cerveja, uma vez que essa bebida fermentada milenar é uma das mais nutritivas do planeta.

Propriedades da Cerveja

A cerveja tem ótima concentração de vitamina B, entre elas a importantíssima B9, também chamada de ácido fólico. Além disso, é fonte de minerais diversos, incluindo silício e também vários antioxidantes, como polifenóis e ácido ferúlico, que segundo estudos, podem ser absorvidos de forma mais eficiente graças justamente ao álcool. O fermentado ainda é rico em fibras solúveis e carboidratos, além de estimular a produção de gastrina, um hormônio peptídeo responsável por promover o fluxo gástrico no estômago.

 

 

Sobre consumo consciente e alcoolismo

Alguns componentes do lúpulo, tais como o xantohumol, tem sido relacionado à redução da aterosclerose, que é o acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias. É sabido também das propriedades antioxidantes desse insumo, combatendo os radicais livres e reduzindo riscos de inúmeras enfermidades crônicas, como doenças cardiovasculares e até mesmo o câncer.

As propriedades nutricionais da cerveja não são exatamente uma descoberta recente, não à toa, os monastérios da Idade Média faziam uso dela como alimento.

Baseado nisso, podemos afirmar seguramente que o consumo moderado e consciente da cerveja entrega diversos benefícios à saúde, não é mesmo?

Sim! Apesar disso, é necessário muita sabedoria e cautela com relação ao consumo do álcool, que quando em excesso, pode provocar diversas complicações à saúde e bem-estar.

 

 

Os excessos do consumo de álcool aumentaram significativamente durante o último ano, principalmente impulsionados pelo stress e ansiedade ocasionados pelo isolamento devido à pandemia do Covid-19, segundo resultados da pesquisa “Uso de Álcool e Covid-19”, publicada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

O abuso do álcool afeta muitos órgãos do corpo, podendo enfraquecer o sistema imunológico, lesar o fígado, danificar o coração, aumentar a ansiedade e até estimular comportamentos violentos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de feminicídio cresceram 22% durante os dois primeiros meses do isolamento, por exemplo.

Há de se destacar ainda, sobre a ética e postura com relação ao consumo de álcool com profissionais do setor. Um dos pontos abordados em nossos cursos da Science of Beer Institute é sobre a cautela com relação aos abusos de álcool, que podem ser especialmente estimulados por quem está trabalhando diariamente com bebidas alcoólicas.

Em termos gerais, o uso abusivo de álcool pode ocasionar não somente prejuízos pessoais e familiares, mas também prejuízos no ambiente profissional, como diminuição na produtividade, aumento de absenteísmo, maior probabilidade de acidentes de trabalho, entre outros.

O alcoolismo é considerado e cientificamente comprovado como doença crônica, provocada pelo vício em ingerir excessivamente e constantemente bebidas alcoólicas. Além de prejudicial à saúde, o alcoolismo pode prejudicar as convivências sociais, familiares e causar problemas no ambiente de trabalho.

Trabalhos e campanhas de conscientização do consumo do álcool tornam-se, portanto, uma pauta emergencial, além de campanhas e programas preventivos direcionados àqueles que ainda não desenvolveram um transtorno relacionado ao uso de álcool, mas já apresentam problemas decorrentes do uso dessa substância.

Além disso, gestantes, lactentes, pessoas alérgicas ou que estejam evitando o consumo do álcool por uso de determinado medicamento ou tratamento e ainda quem vai dirigir veículos depois, têm buscado alternativas não alcoólicas para continuar confraternizando e aproveitando o sabor da cerveja.

Por conta disso tudo, nos últimos anos vem crescendo a oferta de cervejas sem álcool, não alcoólicas e até mesmo as de baixo abv (alcohol by volume /álcool por volume) em toda a Europa. Tudo leva a crer que esse comportamento de consumo se repetirá aqui no Brasil também.   

Em nosso país, a partir do Decreto n. 6.871 de 4 de junho de 2009, que regulamenta a Lei 8918 de 14 de julho 1994 do Ministério da Agricultura, são consideradas bebidas não alcoólicas aquelas que tem até 0,5% abv e de baixo teor alcoólico, aquelas que tem de 0,5% até 2,0% abv e tem ainda algumas proibições: adicionar qualquer tipo de álcool; adicionar água fora da fábrica ou plantas engarrafadoras habilitadas, utilizar edulcorantes e ainda é proibido o uso de corantes artificiais.

Novas ocasiões de consumo podem ainda surgir com as bebidas não alcoólicas.

 

A comunicação da Heineken 0.0 por exemplo, reforça que ela conta com apenas 69 kcal por long neck, não tem adição de açucares para correção de corpo e pode ser consumida em qualquer momento do dia, como antes de dirigir, depois de treinar ou até mesmo durante o trabalho. Essa publicidade assertiva pode impactar positivamente não só os consumidores habitués da marca, mas também toda uma nova geração.

Sobre produção das cervejas não alcoólicas

Existem basicamente três métodos para produção de cervejas não alcóolicas.A primeira consiste na fermentação interrompida e a outra remoção póstuma do álcool. Temos ainda o método de destilação e de fervura. Vamos entender um pouco mais sobre cada um deles:

1) Fermentação interrompida ou por restrição na formação do álcool:

As cervejas feitas a partir desse método, frequentemente tem um residual baixo de álcool (menos de 0,5% abv, que segundo a legislação brasileira, pode ser considerado não alcoólico).

O processo de fermentação é realizado em uma temperatura mais baixa que o tradicional e é interrompido logo após o início, fazendo com que as leveduras decantem no tanque. Esse processo rápido produz CO2, alguns compostos aromáticos e esse pequeno resíduo de álcool.

 

   

 

2) Remoção póstuma do álcool ou Desalcoolização:

Cervejas feitas assim costumam ter 0,0% de álcool.

Aqui, o álcool é retirado da cerveja por meio de fervura e/ou destilação (comum ou a vácuo) a partir de uma cerveja “comum”, produzida por um método convencional. Podemos considerar esse processo o mais utilizado atualmente.

O benefício da destilação a vácuo em relação a destilação comum é que ela reduz significamente a perda de muitos compostos inerentes ao processo de destilação, mas não consegue evitar perda de ésteres e álcoois superiores, importantes para o produto final

Importante citar ainda que a destilação à vácuo consegue uma maior vazão de processo (produtividade) e ainda evita temperaturas elevadas, pois com apenas 40º C em ambiente de vácuo é possível destilar o álcool.

 

3) Osmose reversa

É um método mais complexo e relativamente mais custoso que os demais citados, pois acarreta em alto investimento com trocas de membranas e com sanitização.

Aqui, o líquido fermentado passa por uma membrana semipermeável (espécie de filtro), onde ficam retido os componentes de sabor, exceto a água e o álcool. Então, é feita uma destilação para a retirada do álcool, e o líquido que permanece é adicionado novamente aos demais ingredientes que ficaram no filtro.

 

 

Sobre as cervejas low abv

Além das cervejas não alcoólicas, as cervejas com menos carga de álcool tem sido uma tendência também.

O movimento das Session Beers (cervejas de sessão), transcendem as famosas Session IPA. Essas cervejas costumam ter o processo cervejeiro igual ao de uma cerveja comum, bem como os insumos iguais, com sabores e aromas mantidos, com uma carga de álcool reduzida, que pode girar na casa dos 2 a 4% abv.

 

 

O consumo consciente e moderado da cerveja, principalmente associado à uma alimentação equilibrada e hábitos saudáveis, podem ser sim saudáveis!

E quando pensamos em beber de forma despretensiosa, sem se preocupar com os efeitos do álcool, as cervejas não alcoólicas e de baixo álcool por volume podem ser grandes aliadas!

 

Fontes:

https://beerandhealth.eu/beer-and-health/beer-and-health-making-up-the-balance/

https://beerandhealth.eu/beer-and-health/health-aspects-of-non-alcoholic-beer/

https://www.paho.org/pt/covid19

https://www.cisa.org.br/

II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) – 2012. Ronaldo Laranjeira (Supervisão) [et al.], São Paulo: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), UNIFESP. 2014.

Andrade AG, Anthony JC, Silveira, CM. Álcool e suas conseqüências: uma abordagem multiconceitual. 1a ed. Barueri: Manole; 2009.

 

O texto foi elaborado com a colaboração dos professores Aline Araújo e José Ivan Vieira de Lima.