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Você sabe quais são as abadias que possuem o selo trapista em suas cervejas?



Trapista nada mais é do que uma ordem religiosa monástica católica e beneditina, qe pertence à Ordem Cisterciense da Estrita Observância (ou em latim, Ordo Cisterciensium Strictioris Observantiæ, OCSO). O termo “trapista”, deriva do mosteiro francês onde nasceu o movimento de reforma desses monges cistercienses, chamado de Abadia de La Trappe, no século XVII.

Apesar desse nascimento na França, a Revolução Francesa e o anticlericalismo inerente ao período, forçaram o êxodo desses monges, inicialmente para as áreas rurais da França e posteriormente para a Bélgica e Holanda, onde finalmente se estabeleceram.

Como dito, esses monges são beneditinos e seguem a regra de São Bento (480–547 AD), que afirma entre outras coisas, que “devemos viver pela obra das nossas mãos”. Essa filosofia reforça o hábito desses religiosos encararem o trabalho manual, como uma forma de se aproximar de Deus.


Pintura “Laborare est Orare” , de John Rogers Herbert retrata monges trabalhando, com a imagem da Abadia ao fundo

Pintura "Laborare est Orare", de John Herbert retrata monges trabalhando , com a imagem da Abadia ao fundo.


O fruto dessa manufatura serviria unicamente para consumo próprio dos monges e o volume sobressalente poderia ser doado ou vendido. Entretanto, a renda obtida a partir do comércio desse artesanato, poderia ser destinado exclusivamente para subsídio dos monges ou para causas sociais.

Atualmente, grande parte desses produtos, sejam eles vinhos, pães, bolos, geleias, licores, velas, cosméticos e também cervejas, podem ser adquiridos diretamente nas lojas próprias das Abadias. 

Um dos produtos de maior popularidade mundial produzido pelos trapistas são as cervejas. As abadias que produzem esse fermentado (algumas com receitas seculares), estão divididas nos seguintes países:

  • Bélgica, com seis marcas: Achel, Chimay, Rochefort, Orval, Westmalle e também a icônica Westvleteren
  • Holanda com duas marcas: a La Trappe e a Zundert.
  • Áustria com apenas a Engelszell.
  • EUA com sua Spencer, que produz até mesmo uma cerveja de estilo Stout.
  • Itália, com a cerveja Tre Fontane com toques de eucalipto.
  • Inglaterra, tem uma abadia trapista que faz a Tynt Meadow.
  • Espanha, temos uma marca trapista, a Cardeña.
  • E por fim, na França, temos a marca Mont-des-Cats.

Selo ATPEmbora alguns estilos de cervejas sejam recorrentes entre os mosteiros, tais como Dubbel e Tripel, cerveja trapista não é exatamente um estilo e sim uma espécie de “selo de autenticidade” e de denominação de origem.

Aliás, em 1997, foi criado efetivamente um selo da Associação Internacional Trapista chamado de ATP, que significa “Authentic Trappist Product”.  Este selo hexagonal fora pensado para proteger que o termo trapista não fosse associado a produtos que não pertencessem oficialmente à ordem e não seguissem uma série de regras.

A licença ATP é válida por cinco anos e é emitida para um produto ou categoria de produtos.

Curiosidade: A abadia holandesa de Konigshoeven, que produz a cerveja La Trappe, é a que possui mais produtos com o selo. Cervejas, queijos, pães, cookies, chocolates, geleias e até seu mesmo um mel produzido lá dentro, fazem parte da lista de produtos com selo ATP que a abadia produz.


Mas afinal, quais são os critérios para se obter o selo ATP? Segundo o site da Associação (www. https://www.trappist.be/en/about-ita/atp-label/), são três regras:

1. Todos os produtos devem ser feitos dentro das paredes da abadia.

2. Toda a produção ocorre sob a supervisão dos monges ou monjas.

3. Os lucros devem ser destinados às necessidades da comunidade monástica, para fins de solidariedade dentro da Ordem Trapista, ou para projetos de desenvolvimento e obras de caridade.

 

Diante dessas regras, apesar de todas as abadias listadas acima serem consideradas trapistas e produzirem cerveja, nem todas têm o direito de uso do selo. Das 14 abadias citadas, 3 não possuem o selo ATP:

  • A abadia de Achelse Kluis, que faz a cerveja Achel, que recentemente perdeu o selo por não ter mais monges supervisionando a produção, um dos critérios para obtenção e manutenção do selo.
  • A espanhola San Pedro de Cardeñade cerveja de mesmo nome, que tem sua produção sendo feita fora das paredes da abadia, em outra cidade.
  • E a Abadia de Sainte-Marie-du-Mont, que fabrica a cerveja Mont-des-Cats, que sofre com a mesma questão da espanhola, com suas cervejas sendo parcialmente feitas fora das paredes do mosteiro. Seus queijos, entretanto, possuem o selo.

Lembrando que tudo pode mudar, portanto, fique de olho no site da Associação Internacional para acompanhar eventuais entradas ou saídas de abadias à essa restrita lista.

Site da ordem cisterciense, com a lista das abadias Trapistas espalhadas pelo mundo: https://ocso.org/

Site da Associação Internacional Trapista: https://www.trappist.be/ . Clique no selo hexagonal localizado no canto superior direito do site, para entender quais itens tem ou não o selo.

E aí, desvendado os segredos das cervejas trapistas e das que possuem selo ATP?

The Trappist Breweries