Tendências e novidades no World beer Cup WBC e Craft Brewers conference CBC
WBC, a World Beer Cup, realizada em Minneapolis - EUA - no fim de abril/início de maio, trouxe algumas novidades e tendências.
Além da WBC, a CBC - Craft Beer Conference junto à BrewExpo confirmaram comercialmente o que se fez notar no julgamento do maior concurso cervejeiro do planeta.
Como primeiro destaque, a WBC 2022 alcançou a marca de 11 mil 165 cervejas inscritas, consolidando sua posição como maior competição de cervejas em todo o mundo.
Outro destaque, novidade desta edição, foi a alteração da regularidade do concurso. Agora a WBC passa a ser anual, já tendo sua próxima edição marcada para 4 a 7 de maio de 2023 na cidade de Nashville, no Tennessee.
"No caminho certo"
Pela segunda vez em toda a história do concurso, que nasceu em 1996, uma brasileira foi convidada a fazer o discurso de instrução aos jurados.
Coube à Dra. Amanda Reitenbach, CEO do Science of Beer, tal missão. Ao chamar a convidada ao palco, o diretor da WBC, Chris Swersey destacou a relevância do trabalho de Amanda para o crescimento do mercado cervejeiro no Brasil.
"Ouvir as palavras do Chris Swersey ao me apresentar além de lisonjeada, me fez ver que estou no caminho certo", comenta Reitenbach
"Em meu próprio país tenho sofrido represálias e boicotes, violência de gênero, apenas por exercer meu trabalho. E vê-lo valorizado, destacado lá fora, me dá forças para não desistir", conclui.
Amanda Reitenbach, assim como eu, fomos juízas no concurso ao lado de outros três brasileiros. E o que pudemos observar foi o aumento do número de mulheres juízas, bem como uma política séria de proteção a grupos minoritários.
Um universo mais feminino
Um código de conduta foi elaborado para que os juizes convidados assinassem em concordância. Nele constavam questões relativas a preconceito de gênero, etnia, orientação sexual.
"Esse documento que assinamos como juízes só mostra o quanto a Brewers Association leva a sério a educação da comunidade cervejeira para as questões de igualdade, uma questão urgente e ainda negligenciada no Brasil, comenta Amanda Reitenbach.
Nos chamou atenção no verso do crachá dos juízes, bem como de todos os participantes da CBC e BrewExpo, um link para o movimento "not me", um canal para o relato de qualquer tipo de abuso ou violência sofridos no ambiente dos eventos.
E isso, acreditem, nos deu um conforto grande de saber que estaríamos protegidas de qualquer ato misógino, racista, lgbtquia+fóbico.
Algumas palestras, dos vários eixos traçados, na Craft Beer Conference passavam por questões éticas do mercado cervejeiro, mostrando que não só técnica é importante para a construção de um segmento sadio.
Destacamos o painel montado por mulheres de origem latina, asiática e africana, que falaram das cervejas ancestrais cuja produção feminina era a protagonista
Degustar, não embriagar
O consumo responsável e democrático da cerveja também foi um fator de destaque no concurso e nos demais eventos atrelados a ele.
- Tanto eu, quanto a Amanda, tivemos a chance de avaliar cervejas da categoria das não alcóolicas. E a variedade de estilos inscritos nos impressionou.
"Desde sours, ipas, escuras maturadas em madeira e os estilos clássicos Lager. Cervejas incríveis com sensorial muito equilibrado ( sem gosto ruim ou de mosto) ", destaca Amanda.
Novidades nos insumos
Sobre as novidades da feira BrewExpo, o trabalho de modificação e criação de novas variedades de lúpulo foram um ponto alto.
-Tivemos a chance de experimentar sensorialmente, tanto o aroma quanto o sabor na cerveja, lúpulos com perfis de caramelo e bourbon.
Também conhecemos os novos produtos Barth Haas de lúpulos não sensíveis à luz e de perfil sensorial padronizado, sem depender de safra.
Outra boa novidade relativa aos lúpulos foram a variedade de terpenos isolados e os óleos essenciais aplicados em base aquosa, que possibilita a utilização da planta não só na produção de cerveja, mas de outros produtos, como águas saborizadas e até sabonetes.
Em relação ao malte, uma grande novidade que pudemos ver e provar, foram os grãos infusionados no processo de malteação pela empresa BelgoMalt.
A cevada adquire, já no endosperma, aromas e sabores de plantas e especiarias nas quais foi infusionada.
Provamos maltes com lavanda, com pumpkin spices, com laranja e muitos outros sabores.
Imaginem as inúmeras possibilidades de se produzir uma cerveja com sabores e aromas diferenciados apenas utilizando malte, água, lúpulo e levedura? É essa a aplicação desses grãos infusionados.
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Voltamos dos Estados Unidos muito confiantes de que é possível construir e evoluir um mercado cervejeiro ético no Brasil, assim como está sendo feito por lá.
Basta querermos. E isso, garantimos, é o nosso propósito maior!
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Este post foi escrito a quatro mãos por Amanda Reitenbach & Fabiana Arreguy.