Blog

505 anos de Reinheitsgebot! Ein prosit!

Hoje, a famosa Lei da Pureza Alemã completa 505 anos! Nascida na região da Baviera, é rodeada de tradições e história da cerveja que permeiam a Alemanha.

Documentos da Lei de Pureza.


Instituída pelos Duques da Baviera Ludwig X e Wilhelm IV na cidade de Ingolstadt, a Reinheitsgbot indica que para ser considerada cerveja, a bebida precisa ser produzida apenas com água, malte de cevada e lúpulo. Na promulgação da Lei em 23 de abril de 1516, a levedura ainda não havia sido descrita, e passou a ser reconhecida como ingrediente após o advento do microscópio.

 Ilustração dos Duques bávaros que promulgaram a Reinheitsgbot. Imagem do documento oficial ao lado

Visando evitar possíveis adulterações e ingredientes tóxicos, a palavra Reinheitsgebot tem em sua etimologia: Reinheit (pureza em alemão) e gebot, que vem de gebote, que em alemão significa mandamento ou lei. Em Português, a tradução é praticamente literal, Lei da Pureza.

É considerada a Lei mais antiga sobre alimentos que tem força até os dias de hoje e além de definir os ingredientes da cerveja, regulava o preço de venda, já que a produção de cerveja era extremamente lucrativa.

Veja um trecho da Lei Reinheitsgebot:

“Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades,

nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser cevada, lúpulo e água.

Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações,

será punido pelas autoridades da corte que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha.”


Essa não foi a primeira lei sobre cerveja, cada região ou território na Alemanha podia ter regulamentos relacionados à venda de cerveja, principalmente após a Renascença, em que a mão de obra e tecnologia cervejeira evoluíram e trouxeram a necessidade de controle de produção e qualidade para evitar adulterações e cervejas ruins.

Uma Lei do século XIII da cidade de Augsburg na Alemanha dizia: “Vender cerveja ruim é um crime contra o amor de Cristo”.

Outro ponto a considerar, é que possa ter sido uma questão político-econômica. Para diminuir a fome e escassez de insumos, foi proibido o uso de trigo e centeio, para que esses grãos fossem destinados somente à produção de pão. O uso de trigo nas cervejas, inflacionou o preço da matéria-prima, e a autorização de produção dessa modalidade passou a ser concedida apenas a alguns cervejeiros permitidos pelo Duque.

Em 1447 aconteceu um fato que acreditam ter servido de inspiração para a promulgação da Reinheitsgebot. O duque Alberto IV da Baviera (pai de Wilhelm IV) fez com que todos os cervejeiros de Munique jurassem publicamente que obedeceriam o regulamento que dizia que cerveja só poderia ser produzida com água, cevada e lúpulo.

Em 1919, depois da pressão do Estado Livre da Baviera, que alegou que não faria parte da Nova República se a Lei da Pureza não fosse aceita em todo o território, a Reinheitsgebot foi incluída nas leis de toda a Alemanha.

A Lei da Pureza precisou ser atualizada de acordo com os anos, primeiro com a alteração de cevada crua, para malte de cevada, já que foi observado que o rendimento da cerveja é muito mais eficaz com essa técnica.

Depois, a abertura do mercado através da União Europeia, “forçou” os alemães a retirarem a obrigatoriedade da Lei, e em 1993 se tornou a Vorläufiges Deutsches Biergesetz (Lei Provisória da Cerveja Alemã), que proíbe o uso de cevada não maltada, mas permite o uso de trigo e açúcar de cana.


A Lei pode ser vista por cervejeiros estrangeiros como uma medida de protecionismo por parte dos alemães.

Hoje, a maior parte dos alemães ainda segue com orgulho a Reinheitsgebot e a têm como tradição e garantia de qualidade. Em diversos países, a mesma estratégia é utilizada como símbolo de qualidade, para demonstrar que a seleção de ingredientes segue alto padrão e tradição.

Além da Lei sobre cerveja mais falada no mundo, a Alemanha contribuiu com sua alta qualidade de produção na instituição do mercado craft iniciado nos EUA. Os imigrantes alemães e de outros países europeus, reproduziam suas receitas de lagers no país, o que auxiliou na constituição de um movimento de cervejeiros caseiros, que mais tarde evolui para o mercado de microcervejarias.

Na Alemanha, o mercado de grandes cervejarias também encolheu nos últimos anos em detrimento do mercado craft, principalmente depois da aquisição da americana Anheuser-Busch pelo grupo brasileiro InBev, que detém a maioria das marcas de cerveja no mundo, inclusive na Alemanha.

Gôndola de um supermercado na Europa, com diversas cervejas alemãs


Fatos como este, ajudaram a constituir o movimento artesanal no país, que em 2017 configurava metade das mais de 1400 cervejarias. Ainda que as lagers clássicas sejam as cervejas mais consumidas, esse fenômeno traz inovação e variedade de uma forma nunca vista na Alemanha.